vago
April 28
arte ◆ whereabout
desde muito tempo atrás, as pessoas encontram tanto desconforto quanto prazer na vagueza. na prática cotidiana e na fala comum, é melhor deixar claras as intenções. ainda assim, quando a presença das palavras não basta como dádiva de expressão, encontram alívio no silêncio.
os humanos, com engenho, descobrem novas maneiras de dizer mais do que podem falar. cedo perceberam que não havia razão para evitar o mar de sentidos duplos ou múltiplos. e aprenderam a abraçar todos eles de coração aberto. para assim comunicar aos outros muito mais do que eles mesmos sabem.
não dizer é um gesto de confiança, empatia e amor.
em toda situação, a comunicação em si baseia-se em assumir o que o outro sabe — e o que não sabe. não é necessário ensinar uma língua inteira a cada vez que se fala. as pessoas se conectam não pela captura do conhecimento, mas pela absorção dele. tal qual uma esponja que, sem critério, mistura todos os líquidos que absorve, cada mente é uma taça rica de informações, organizadas e agitadas de maneira única. ser vago é reconhecer isso — e ser humilde diante de outras mentes.
através da vagueza, o significado torna-se uma obra coletiva. todo trabalho compartilhado exige cooperação, e determinar quais escolhas serão entregues aos cooperadores é a decisão mais importante. requer conhecer os seus parceiros, suas particularidades e qualidades. requer confiança.
pular palavras de maneira descuidada revela medos, dúvidas e desejos ocultos. ser vago não é fácil, e pode resultar apenas em incerteza. moldar tais expressões que provocam pensamentos e impactam exige esforço, paixão e conexão.
e isso pode ser deixado à interpretação,
o espaço deixado entre palavras certas é um presente.
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